Porque eu corro?
Porque eu corro? Porque eu me coloco de pé logo antes do sol nascer para encarar alguns km a mais? Porque sinto prazer em terminar uma corrida longa, com aquela cara de desidratado, de desnutrido? Porque eu sinto tanto prazer em simplesmente correr?
Sempre fui ligado aos esportes. Desde as aulas de Educação Física na escola, aos meus tempos como nadador na adolescência e até mesmo como um peladeiro oficial na quadra de futebol de casa, sempre amei a sensação de prazer, adrenalina que a atividade física me proporciona.
Por razões distintas, assim que me formei em Educação Física em 2007, fui aos poucos descuidando da forma física até chegar ao meu auge dos meus 100kg. Naquele momento tinha acabado de começar minha carreira profissional, fui pai logo com 23 anos de idade, vivia para o trabalho e para o lar. De um corpo atlético e fôlego de menino, me encontrei como um sedentário que nem de longe lembrava alguém que chegou a treinar 4h, 5h horas diárias na minha vida de atleta.
A vida prega dessas peças. Ironicamente, um Professor de Educação Física, sem disposição nenhuma, batendo na porta da hipertensão arterial, 100kg e constantemente acometido por mazelas comuns. Naquele tempo o exemplo estava bem perto de mim. Ainda não tinha nenhuma percepção real do que era corrida de rua. De forma sempre interessada minha mãe começava a comentar sobre corrida de rua. Ela esbanjava uma alegria que eu pensava comigo: "Minha mãe, nessa altura da vida, parecendo uma maluca hippie com esse entusiasmo". É, meu humor era algo depressivo também.
Em 2010, fiz uma cirurgia de hérnia. O cirurgião em tom de brincadeira mas com fundo de alerta, disse: "Cara, foi quatro dedos de gordura para conseguir te abrir, ainda mais você, Professor de Educação Física". Fiquei incomodado, obviamente. Embora eu sentisse enorme satisfação com o entregador do McDonalds me entregando minha fartura no Domingo a noite, me sentia incomodado com tudo. Meu corpo, minha disposição.
Logo após o período recuperatório resolvi me arriscar na esteira do prédio. Sem metodologia nenhuma. Andava, corria uns trotes, ficava uma semana sem fazer nada. Rotina irregular. Mas ali comecei a entender um pouco. Logo a rotina voltou ao normal comigo me sentindo o Maguila. Um ano mais tarde, entre minhas idas e vindas na emergência do Hospital com um tal de passar mal por qualquer bobagem, vi que aquilo estava errado.
Resolvi encarar a coisa com seriedade. E comecei a caminhar, trotar, correr. Busquei artigos sobre o tema, resolvi me arriscar em uma planilha que encontrei no Dr. Google, nosso oráculo de sempre. Mas levei a sério mesmo. De repente, me vi um sujeito mesquinho, com uma chatice insuportável, controlando tudo que comia, treinando sem parar. Cerca de cinco meses depois, quase 20kg a menos, me sentia outra pessoa, feito um mauricinho estampando o último lançamento da Lacoste.
Fui então participar dessa tal de corrida de rua. Eu, sempre alienado, só conhecia São Silvestre pela TV. Participei da corrida Beija Flor em 2012 no St. Jaó. Fiz meus primeiros 5k em longínquos 36, 37 minutos, não me recordo bem. Mas eu mais parecia um fusca 68 enguiçado no fim da corrida, com o tempo todo me questionando e suplicando coisas como " O que que eu estou fazendo aqui?" " Acaba logo essa corrida" "Jesus, não deixe ninguém rir de mim quando eu cruzar a linha de chegada" "Deus supliquei para Jesus mas ele parece que não ouviu, cadê essa chegada??". Vida de corredor não é fácil. Sim, eu quis desistir. Mas essa internet, redes sociais... Postei a foto da minha primeira corrida e para minha surpresa, houve um tanto de manifestações carinhosas, que 5 minutos depois eu disse "Deus, desculpe ter te atazanado tanto da próxima vez vou perturbar os santos e eles repassam o recado ao senhor". E comecei a me sentir infinitamente bem.
Meu fôlego se revelava algo extraordinário! Continuei correndo de forma despretensiosa, estudando o tema e ficando impressionado com as corridas que participava. Esse ano de 2016 se revelou especial para mim. Eu queria desde 2013 botar em prática o desejo de montar uma assessoria de corrida. Estudei, fiz vários cursos, continuo fazendo, com um desejo crescente de aprender mais e mais e poder ajudar o maior número de pessoas com a corrida.
Nunca participei de tantas corridas como em 2016. Fui consultar meu Garmin (outra frescura tecnológica que adquiri, mas com uma baita utilidade) e me assustei ao ver que nos últimos 6 meses, quase 800km foram percorridos entre treinos e corridas. Provavelmente, fecho o ano superando a barreira dos 1000km, pois ainda irei disputar provas de 15km, 16km, 21km.
Essa tal de corrida parece bicho no pé. Um trem que não sai. Todo mês rezo a Deus assim: "Por favor não me mande mais boletos de corrida porque se não eu pago todos e, se eu não tiver, recorro ao paitrocinador e a maetrocinadora ( que vergonha, rs, mas sim, sou de Papai e Mamãe). Cada corrida se reserva algo especial. Não quero ser daquela turma que vê os comentários nas redes sociais do tipo " Cara, que corrida boa! Que coisa imperdível" e não estive na corrida. Dá uma raiva danada!
Falando nisso... Ainda tem Meia Maratona Unimed, Music Run, Rosa Chock, Meia Maratona Internacional de Caldas Novas, Golden Run em Brasilia, São Silvestre para fazer esse ano ainda (Por favor, não me mande mais boletos, rsrsrsrsrs). Mas com alegria e satisfação, pretendo fechar o ano como comecei, sentindo a brisa do vento, calor do asfalto e alegria de viver!!
Grande Abraço a todos!!
Ricardo Carneiro Rocha
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